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sábado, dezembro 10, 2005 

Carvão

Esperas o quê? Dias melhores? Dias maiores? Talvez dias que não sejam feitos de brechas de tempo por onde enfiar remorsos negros remorsos negros traços de um desenho incongruente, daqueles que só perdendo o olhar neles se vê outra coisa qualquer. Esses são os melhores desenhos porque cada um vê o que a cabeça lhe manda ver, são como filtros que eliminam o ruído ambiente ruído de fundo e permitem por momentos ter uma ideia original, vendo uma imagem criada naquele instante pelo nosso cérebro. Nunca tiveste uma única ideia original. Pode dar-te jeito enquanto esperas os teus dias mágicos dias à espera, um conjunto desses desenhos para forrares os limites de todo o teu tédio, se é que tem limites. Eu próprio vou desenhá-los. Sangue? Nem penses. Não mereces. Tu e o teu exército de milhares de expectativas que dizes serem larvas em plena metamorfose dentro do casulo mas que são é sanguessugas embalsamadas não fizeram outra coisa durante anos que não fosse sangrar-me.

Carvão.

Vou desenha-lhos em traços largos a carvão. Conhecendo-te como eu te conheço e conheço-te melhor que ninguém, não vai ser difícil antecipar as minhas às tuas sinapses. Sei como as fazer convergir, sei como convertê-las subvertê-las pôr-lhes uns arreios e fazê-las puxar a minha quadriga pelo estalar das curvas serpenteantes que rasgarão o ar por entre o desenho a traços largos em carvão que te vou dar. Quando o vires o abrires e te vires cara a cara com os contornos largos com que se delineiam os teus sonhos quando os teus olhos virem a verdade como eu a vejo com os meus olhos nos teus, vais abrir bem, esticar bem os olhos e deixar entrar tudo, toda a realidade, todos os teus sonhos sem aquela máscara ridícula com que os deixas enganar-te. Purificação pelo fogo quente fogo em línguas vermelhas desenhadas em carvão a traços largos com fome de tudo uma fome infinita e uma sede infinita de tudo, condenadas sob o signo da fénix a saciarem-se apenas quando tiverem queimado todo o universo, sem nunca o conseguirem. Por cada árvore queimada há milhares de sementes que farão das sepulturas úteros onde crescerão até conseguirem rasgar a membrana limiar e esticarem os ramos ao ar e ao sol com o único propósito de esticarem os ramos ao ar e ao sol, como se o modo como as coisas são não passasse de uma birra do destino. Tu serás uma dessas árvores e uma dessas sementes, e nem te vais aperceber, enquanto eu sou e serei esse fogo consciente da sua própria maldição, da birra infantil do destino e da sua própria falta de destino próprio. A carvão desenharei imagens através de linhas de poemas com traços largos com que amarrarei nós grossos para te segurar a uma ideia: a de que as coisas são como são mas podiam ser de outra maneira qualquer.

Sobre mim

  • Nome: Daniel Marinha
  • De: L'Isle sur la Sorgue, Provence-Alpes-Côte d'Azur, France
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